Cores & Formas

Glauco Rodrigues

Glauco Rodrigues (Bagé, RS, 1929 – Rio de Janeiro, RJ, 2004)

Pintor, desenhista, gravador, ilustrador, cenógrafo. Com afiado senso de humor, retrata elementos característicos da cultura nacional para questionar estereótipos e explorar a complexidade da história brasileira.

Começa a pintar, como autodidata, em 1945. Em 1949, tem aulas com o pintor José Moraes (1921-2003), que instala um ateliê coletivo nas proximidades de Bagé, Rio Grande do Sul. Nesse ano, recebe bolsa de estudos da prefeitura bageense e frequenta por três meses a Escola Nacional de Belas Artes (Enba), no Rio de Janeiro.

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Em 1951, funda o Clube de Gravura de Bagé, com Glênio Bianchetti (1928-2014) e Danúbio Gonçalves (1925-2019). Fixa-se em Porto Alegre e participa do Clube de Gravura de Porto Alegre, fundado por Carlos Scliar (1920-2001) e Vasco Prado (1914-1998). No período em que frequenta essas associações de gravadores, seus trabalhos são voltados para a representação do homem do campo e para tipos e costumes regionais.

Em 1958, muda-se para o Rio de Janeiro e integra a primeira equipe da revista Senhor como ilustrador. A partir do fim da década de 1950, sua produção se aproxima da abstração, como em Paisagem de Porto Alegre (1957). A tendência se agrava nas aquarelas declaradamente abstratas, realizadas no período em que Rodrigues mora em Roma, entre 1962 e 1965.

Ao retornar para o Brasil, participa de importantes exposições, como a Opinião 66 no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro. No decorrer da década de 1960, volta à figuração e produz obras sob o impacto da arte pop, tratando com humor temas nacionais como a imagem de indígenas, o carnaval, o futebol, a natureza tropical e a história do Brasil. Essa abordagem está presente em Mito (1964/1965) e Pão de Açúcar (1968) e inspira séries como Terra Brasilis (1970) e Carta de Pero Vaz de Caminha (1971).

Além do registro do processo de carnavalização como crítica da cultura visual brasileira, alguns comentadores destacam o caráter hiper-realista do estilo do artista, como no quadro A Juventude (1970). A paisagem brasileira também é um elemento recorrente de suas obras, notada, por exemplo em Icatu-Água Boa (1975).

A postura crítica e bem-humorada também está presente na produção da década de 1980, como em No País do Carnaval (1982) ou Sete Vícios Capitais (1985). Segundo o crítico Roberto Pontual (1939-1994), a obra de Glauco Rodrigues mostra um caráter de “tropicalismo crítico”, questionando o contexto social e político brasileiro por meio de personagens identificáveis do passado histórico e empregando uma leve ironia.

Partindo de fontes fotográficas, postais ou reproduções e considerando a fotografia como fixadora de fatos, Rodrigues reúne na superfície da tela signos de uma realidade que se apresenta como inegavelmente brasileira. Soma-se ainda a constante utilização do verde e do amarelo e da própria bandeira do Brasil. Na opinião de Pontual, o humor e a festa são táticas pelas quais o artista questiona uma série de clichês associados à imagem do país. A metalinguagem ganha forma também pela citação de quadros consagrados, como a figura de O Derrubador Brasileiro (1879), de Almeida Júnior (1850-1899), presente em Abrasileirar-se (1986) e Paz na Tarde (1989), ou a tela Primeira Missa no Brasil (1860) de Victor Meirelles (1832-1903), retomada em obra de mesmo nome, datada de 1980. Na tela A Ira (1985) estão presentes as figuras do afresco Expulsão do Paraíso, do pintor renascentista Masaccio (1401-1428).

Na década de 1980, Rodrigues recebe o Prêmio Golfinho de Ouro Artes Plásticas do governo do estado do Rio de Janeiro e publica o livro Glauco Rodrigues, que reúne toda a sua obra. Em 1999, recebe o Prêmio Ministério da Cultura Candido Portinari – Artes Plásticas.

Glauco Rodrigues dá forma a aspectos muito característicos da cultura brasileira com ironia e tom provocativo. Estabelecendo diálogos entre presente e passado, o artista justapõe diferentes representações do país e reflete sobre a história nacional.

Fonte: Itaú Cultural

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